Joel Arcanjo (CDD Irajá) |
Por várias vezes tenho ouvido e
assistido nos comentários feitos nesta emissora, opiniões que podem levar
os seguidores a uma interpretação equivocada da situação dos Correios na relação
com seus trabalhadores.
Sei que no auge de sua vaidade de
âncora desta expressiva mídia, o senhor Ricardo Boechat pode desdenhar
desta nota, pois como o acompanho de forma rotineira, sei da sua aversão ao
que lhe opõe. Entretanto, mesmo que não dê atenção à nota, esta cumprirá
seu objetivo de uma forma ou de outra.
Os Correios são uma empresa
estratégica à soberania nacional dada sua capilaridade geográfica. Pelos
Correios passam informações sigilosas e confidenciais garantidas pela legislação
e seria uma temeridade entregar estas informações à guarda de um ente privado.
É um equívoco achar que os Correios
sugam recursos governamentais, e que por isso seria um peso para a
arrecadação de impostos, onerando os gastos públicos.
O que acontece é justamente o
contrário. Os Correios todo ano repassam, para o governo, dividendos de
seus resultados. Nos últimos anos, os repasses têm sido elevados (Na ordem
de 6 bilhões), levando a empresa a uma descapitalização.
Outro equívoco é tentar medir as
condições da assistência médica oferecida pela empresa aos seus
funcionários, sem levar em conta a análise histórica de como se deu a
construção desta cobertura. O Plano de Saúde é fruto de negociações
coletivas de décadas e sua implantação foi como uma contrapartida aos
baixos salários da categoria (o menor salário das estatais).
Foi uma espécie de anestesia á
luta por melhorias salariais e uma resposta às condições de trabalho
degradantes. Nossa luta não é só pelo Plano de Saúde, como de forma rasa
é noticiado.
Outras pautas vão se acumulando, com
um ataque a cada momento.
A eminência da desvalorização
profissional e o risco da perda do emprego assolam os trabalhadores em
cada ataque.
Fechamento de Agências próprias para
abrir espaço para as franquias, com a ameaça de demissão dos Atendentes
Comerciais, Extinção do cargo de Operador de Triagem e Transbordo, que é o
profissional que movimenta o fluxo postal interno, substituindo por
terceirizados, suspensão das férias
já agendadas, trazendo prejuízos ao bem estar das famílias, fim da verba
do diferencial de mercado, que funciona como um complemento salarial para equiparar
ao meio privado, congelamento da contratação de funcionários concursados,
ampliando a defasagem de pessoal e
aumentado a falta de condições de trabalho e impossibilitando o
cumprimento das metas de entrega, que cresceu com o advento das compras
pela internet.
Não estamos à beira de uma greve por
regalias como AUXÍLIO MORADIA.
Estamos usando a nossa última
arma depois de tentar todos os tipos de negociações. Cobramos a
transparência nas contas da empresa, nos gastos e contratos nebulosos sem
qualquer critério.
Não podemos ser penalizados pelos
desmandos de candidatos aliados dos governos de plantão, derrotados nas
eleições, que recebem como prêmio de consolação, a direção de empresas
públicas, sem nada conhecer do negócio.
Creio que a Band, como concessionária
pública, tem um compromisso com a verdade e com a imparcialidade da
notícia e não vai se apequenar a um papel de agência militante de
qualquer
ideário político. Imagino que os dois
lados devam ser ouvidos de forma isonômica.
Assisti uma longa entrevista do
presidente dos Correios e do ministro Gilberto Kassab para darem suas versões,
porém quando se trata de representante dos trabalhadores, as entrevistas
não passam de 15 segundos. Isso não é democracia.
Estou à disposição para possíveis
controvérsias e indico que procurem os devidos esclarecimentos com as
representações sindicais.
Essa nota é de minha inteira
responsabilidade e não expressa a opinião da entidade.
Joel Arcanjo Pinto
Carteiro do CDD Irajá
Diretor da FENTECT - Federação
Nacional de Trabalhadores dos Correios
FONTE: