sexta-feira, 9 de março de 2018

NOTA DE UM CARTEIRO À BANDNEWS E AO RICARDO BOECHAT


Joel Arcanjo (CDD Irajá)
Por várias vezes tenho ouvido e assistido nos comentários feitos nesta emissora, opiniões que podem levar os seguidores a uma interpretação equivocada da situação dos Correios na relação com seus trabalhadores.

Sei que no auge de sua vaidade de âncora desta expressiva mídia, o senhor Ricardo Boechat pode desdenhar desta nota, pois como o acompanho de forma rotineira, sei da sua aversão ao que lhe opõe. Entretanto, mesmo que não dê atenção à nota, esta cumprirá seu objetivo de uma forma ou de outra.

Os Correios são uma empresa estratégica à soberania nacional dada sua capilaridade geográfica. Pelos Correios passam informações sigilosas e confidenciais garantidas pela legislação e seria uma temeridade entregar estas informações à guarda de um ente privado.

É um equívoco achar que os Correios sugam recursos governamentais, e que por isso seria um peso para a arrecadação de impostos, onerando os gastos públicos.

O que acontece é justamente o contrário. Os Correios todo ano repassam, para o governo, dividendos de seus resultados. Nos últimos anos, os repasses têm sido elevados (Na ordem de 6 bilhões), levando a empresa a uma descapitalização.

Outro equívoco é tentar medir as condições da assistência médica oferecida pela empresa aos seus funcionários, sem levar em conta a análise histórica de como se deu a construção desta cobertura. O Plano de Saúde é fruto de negociações coletivas de décadas e sua implantação foi como uma contrapartida aos baixos salários da categoria (o menor salário das estatais).

Foi uma espécie de anestesia á luta por melhorias salariais e uma resposta às condições de trabalho degradantes. Nossa luta não é só pelo Plano de Saúde, como de forma rasa é noticiado.

Outras pautas vão se acumulando, com um ataque a cada momento.

A eminência da desvalorização profissional e o risco da perda do emprego assolam os trabalhadores em cada ataque.

Fechamento de Agências próprias para abrir espaço para as franquias, com a ameaça de demissão dos Atendentes Comerciais, Extinção do cargo de Operador de Triagem e Transbordo, que é o profissional que movimenta o fluxo postal interno, substituindo por 
terceirizados, suspensão das férias já agendadas, trazendo prejuízos ao bem estar das famílias, fim da verba do diferencial de mercado, que funciona como um complemento salarial para equiparar ao meio privado, congelamento da contratação de funcionários concursados, 
ampliando a defasagem de pessoal e aumentado a falta de condições de trabalho e impossibilitando o cumprimento das metas de entrega, que cresceu com o advento das compras pela internet.

Não estamos à beira de uma greve por regalias como AUXÍLIO MORADIA.

Estamos usando a nossa última arma depois de tentar todos os tipos de negociações. Cobramos a transparência nas contas da empresa, nos gastos e contratos nebulosos sem qualquer critério. 

Não podemos ser penalizados pelos desmandos de candidatos aliados dos governos de plantão, derrotados nas eleições, que recebem como prêmio de consolação, a direção de empresas públicas, sem nada conhecer do negócio.

Creio que a Band, como concessionária pública, tem um compromisso com a verdade e com a imparcialidade da notícia e não vai se apequenar a um papel de agência militante de qualquer 
ideário político. Imagino que os dois lados devam ser ouvidos de forma isonômica.

Assisti uma longa entrevista do presidente dos Correios e do ministro Gilberto Kassab para darem suas versões, porém quando se trata de representante dos trabalhadores, as entrevistas não passam de 15 segundos. Isso não é democracia.
Estou à disposição para possíveis controvérsias e indico que procurem os devidos esclarecimentos com as representações sindicais.

Essa nota é de minha inteira responsabilidade e não expressa a opinião da entidade. 

Joel Arcanjo Pinto
Carteiro do CDD Irajá
Diretor da FENTECT - Federação Nacional de Trabalhadores dos Correios


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